- Introdução.
Que a Graça e a Paz de Nosso Senhor Jesus esteja sempre contigo!
Seja bem-vindo meu irmão e minha irmã para o nosso Curso sobre o Mistério do Natal.
Este curso tem por objetivo, resgatar o verdadeiro espírito deste tempo tão belo e significante na nossa vida cristã. O espírito do Natal, tem sido cada vez mais se secularizado e profanado. Por isso, se faz necessário que, como comunidade cristã, redescubramos este espírito e o cultivemos nos seios de nossas famílias que são verdadeiras Igreja Doméstica.
Queremos revelar aqui a fé da Igreja através da Celebração do mistério do Natal. O Natal é efetivamente, depois do Páscoa, um acontecimento de primordial importância e está com ela intimamente relacionado, como veremos no primeiro módulo do nosso curso.
A história das celebrações natalícias não podia deixar de ser estudada, uma vez que sem o passado não se compreende o presente, nem se descobre a identidade de um povo ou de uma pessoa, é o que veremos no segundo módulo.
O tempo do advento, que antecede e prepara a celebração do Natal, ocupa um lugar importante e apresenta uma espiritualidade rica de doutrina teológica e de vida cristã, isto será objeto de nosso estudo no terceiro módulo.
No quarto módulo poderemos ver que a celebração do Natal é extremamente rica de simbolismo e de graça.
Na oitava de Natal, a liturgia põe em relevo diversas celebrações, que mantém uma unidade que não deixa de corresponder a uma verdadeira oitava, objeto do nosso sexto módulo.
E, por fim, no sétimo módulo estudaremos a celebração da Epifania, festa tão rica de conteúdo teológico e de tantas implicações na vida da Igreja.
Desejo que você aproveite este tempo oportuno, o “Kairós” de Deus na sua caminhada em direção à Vida Eterna. Nos veremos no próximo módulo do nosso curso. Até lá!!
- Módulo I – O Mistério do Natal
- Introdução.
O nosso Deus é um Deus VIVO. É o Deus vivo que salva e liberta; é Ele que realiza sinais e maravilhas nos céus e na terra (Dt 6,27s).
A vida, em todas as suas formas, e principalmente a do homem está nas mãos de Deus. Quando Deus culminou a Sua obra criadora, fazendo aparecer o homem, fez dele o mais perfeito dos seres vivos, pois criou-o à sua imagem e semelhança.
Porém toda a vida humana, a vida terrestre é precária, ou seja, todo ser humano está sujeito à morte. A vida é curta (Sl 37, 36), mas, mesmo assim, ela vem de Deus, e se vem de Deus é sagrada.
A sagrada escritura nos ensina que a vida não se alimenta tanto dos bens deste mundo, quanto da sua ligação a Deus, pois só Ele é a Vida.
Deus é a fonte da água viva (Jr 2,13; 17,13) e a fonte e origem da própria vida (Cf. Sl 36,10).
Toda a mensagem sobre a vida contida no A.T., tem a sua plena confirmação na pessoa e na mensagem de Jesus. N’Ele todas as promessas se tornam realidade.
Aquele que é Verbo da vida, num momento ápice da história se fez homem e passou a ter ao mesmo tempo vida divina e vida humana que assumiu no seio de Maria, ao chegar a “plenitude dos tempos”: O Verbo se fez carne e habitou no meio de nós (Jo 1, 14).
Esse é o grande mistério que celebramos no Natal!
O Natal é a grande epifania do Verbo eterno que armou uma tenda no meio deste mundo. É a primeira grande manifestação visível do Verbo feito carne.
Só se entende o Natal como mistério, depois do conhecimento da Páscoa, o qual, revela a existência do Verbo de Deus, desde toda a eternidade.
Na Páscoa celebramos o Cristo, que deu a vida pelos homens. No natal, revivemos o mistério do Verbo de Deus, o Cristo, que num determinado momento da história, se fez homem, assumiu a carne humana, para poder purificá-la e salvá-la ao entregar-se na cruz por nós.
No natal acolhemos Jesus, o Verbo, que se fez homem para nos redimir, ou seja, é um ato de fé antecipado, no mistério da redenção.
O Mistério do Natal em função da Páscoa
“E o Verbo se fez carne” (Jo 1, 14).
Alguns textos bíblicos confirmam este enunciado, que nos Evangelhos não tem paralelo:
“E a vida que estava junto do Pai manifestou-se e apareceu-nos” (Cf. Jo 1,12).
Ao falar do Verbo que estava junto de Deus e que era Deus, S. João acrescenta: “E o Verbo se fez carne”
O que isto quer dizer?
O mesmo Verbo que existiu desde o princípio (desde toda a eternidade) junto de Deus e era Deus; que participou na Criação do mundo: “Tudo foi feito por Ele”, esse mesmo Verbo, continuando a ser o Verbo de Deus, eterno como o Pai, começou a existir, no tempo da história dos homens, também como Verdadeiro Homem: “O Verbo se fez carne”.
Pela encarnação, o Verbo divino desce ao mundo terreno, identificando-se como homem, no meio dos homens que Deus criou, o que faz deste momento da encarnação o fundamento essencial de todo o futuro da história do Verbo encarnado. É o princípio de uma unidade histórica que culmina com a Cruz e a Ressurreição, ou seja, com a Páscoa.
Fazer-se homem e nascer homem é o primeiro gesto pascal. Natal e Páscoa é o começo da nossa redenção, nos diz Karl Rahner.
- Natal e Plenitude dos Tempos
São Leão Magno, no século V, foi um dos maiores Papas da história. Em seus escritos ele nos diz: “Ao chegar a plenitude dos tempos, segundo os insondáveis desígnios de Deus, o filho de Deus assumiu a natureza do gênero humano, para a reconciliar com o seu Criador”.
Santo Hipólito, no século III, ensina-nos: “Na plenitude dos tempos, o Pai enviou à terra o Verbo, porque já não queria que Ele falasse por meio dos Profetas nem fosse anunciado por meio de prefigurações obscuras, mas desejava que se manifestasse de forma visível, a fim de que o mundo, ao vê-lo, pudesse salvar-se”.
Portanto, o Natal não é uma festa do passado, é algo presente que é, ao mesmo tempo, o começo de um futuro eterno que de nós se avizinha.
As duas festas (Natal e Páscoa) conjuntamente nos prometem o dia que todos estamos esperando na fé. Constituem ambas a celebração de uma noite que é a mais santa de todas as noites.
Unidos os mistérios do Natal e da Páscoa apontam para o Dia do Senhor.
Na encarnação, Deus faz que termine o “século antigo” e que o tempo atinja o seu termo de tempo antigo. O tempo novo, o tempo de consumação e plenitude começa com Jesus, o Verbo eterno, entra no tempo e se faz homem mortal.
Portanto a encarnação não marca o fim de uma época, mas, marca o tempo de modo completamente novo, porque a partir de agora, começa na terra o verdadeiro “Reino de Deus”.
Deus envia o seu Filho ao mundo e ao tempo, e foi enviado ao tempo quando a plenitude dos tempos foi atingida.
Este envio acontece na encarnação do Verbo: “Chegada a plenitude dos tempos, enviou o seu Filho ao mundo, originado e nascido de mulher” (Gl 4,4), isso significa a entrada no ser histórico d’Aquele que já existia desde toda a eternidade.
Santo Agostinho, em um dos seus sermões, ilustra bem esta ideia: “Celebremos com alegria a vinda da nossa salvação e redenção. Celebremos o dia feliz em que o grande e eterno Dia veio inserir-se neste nosso dia atemporal e tão breve”.
- Da primeira criação à nova criação pascal
A vida não dura pra sempre. A morte um dia baterá em nossa porta. A vida ainda está escondida naquele futuro silencioso, para o qual nos dirigimos – Deus. Só Ele é a Vida.
Na encarnação, Jesus inaugurou a plenitude dos tempos e a plenitude da vida. Tudo na vida de Jesus, aponta para a vida nova que Ele veio inaugurar.
Em Jesus, por paralelo com a primeira criação, Deus dá início à nova criação. N’Ele começa a vida nova, nascida do alto, nascida do Espírito: “foi concebido do Espírito Santo”.
Em Cristo e por Cristo a criação atinge o seu pleno desdobramento histórico, pelo qual Deus se torna presente em todas as coisas.
A verdadeira imagem e semelhança de Deus está ali, naquele Menino nascido em Belém.
A criação e a redenção inserem-se num único plano salvífico. Cristo, ao encarnar e ao nascer, atinge simultaneamente o “o fim dos tempos da criação” e marca o início dos tempos últimos que n’Ele são inaugurados, num corpo humano, que ao ser glorificado na ressurreição, é feito imortal e eterno.
A era de Cristo não é nem a era de Adão (tempo da criação), nem a era de Israel (tempo da história mortal dos homens). É uma era, para além de todas as eras; transcende o tempo, porque projeta o tempo na eternidade.
“A vida humana de Jesus (desde a encarnação até à morte) não é simplesmente uma aceitação do momento presente (que Ele, como homem, vive, ao inserir-Se na história temporal dos homens). Ele é a manifestação do Pai, na temporalidade; e é a realização do Seu plano, executado em determinado momento da história, mas salvifícamente válido para todo o tempo, desde a criação até a parusia” (Cf. Adalbert Haman).
A encarnação situa-se num instante preciso do tempo. Este instante é o “ponto de junção” entre a eternidade e o tempo.
O nascimento de Jesus é o primeiro acontecimento público da vida humana do Filho de Deus, da vida nova inaugurada, na carne, assumida pelo Verbo eterno. A encarnação/nascimento é o começo da Kénosis do Filho de Deus.
- Pela encarnação, Cristo se identifica com os homens
A Gaudium et spes, no parágrafo 22 nos diz: “Através de sua encarnação, o próprio Filho de Deus uniu-se, de certo modo, a cada homem. Trabalhou com mãos de homem, pensou com mente de homem. Nascendo da Virgem Maria, Ele tornou-se verdadeiramente um de nós, em tudo semelhante a nós, exceto no pecado”.
A vinda de Cristo, transfigura o universo e dá sentido a própria vida do homem.
E, como a morte e a vida não são simplesmente dois acontecimentos sucessivos, pois morremos durante toda a vida, e aquilo que chamamos de morte é simplesmente o fim dum morrer que durou a vida inteira, a encarnação de Cristo tornou-o tão unido ao homem que Ele próprio é capaz de morrer pelos homens, como estes morrem, e é aí, na morte, que nos salva do pecado e da morte.
Toda a vida de Cristo foi, tal como a nossa é, um contínuo sábado santo. O Seu nascer, o Seu morrer, a Sua sepultura foram a promessa de vida eterna que a sua encarnação iniciou. Desde a sua encarnação até a ressurreição, Jesus está em sábado santo. Até nisso Ele se associou e identificou com o homem! É que, também nós, enquanto não chegar o nosso dia identificado com o dia do Senhor, aguardamos, em esperança, a gloriosa liberdade dos filhos de Deus e a plenitude da vida.
O Natal é a festa do nascimento da eterna juventude.
Karl Rhaner diz: “Nasceu para nós um menino, o Menino em que se enxerta definitiva e triunfalmente, neste mundo, a eterna juventude de Deus”.
No Natal, começou a viver Aquele, cuja morte foi o nascimento da nossa vida eterna.
- Mistério da encarnação e salvação dos homens
Santo Agostinho, em seu sermão 185 nos ensina: “Terias morrido para sempre, se Ele não nascesse no tempo. Nunca terias sido liberto da carne de pecado, se Ele não assumisse a semelhança da carne de pecado. Estarias condenado à miséria eterna, se não fosse a Sua grande misericórdia. Não terias voltado à vida, se Ele não descesse ao encontro da morte. Estarias perdido, sem remédio, se Ele não viesse salvar-te”.
Semelhante nos ensina S. Hipólito: “Cristo é Deus, que está acima de todas as coisas, que decidiu libertar os homens do pecado, renovando o homem velho que Ele tinha criado à Sua imagem e semelhança, desde o princípio, manifestando nesta imagem renovada o amor que tem por ti”.
Este relacionamento da encarnação com a nossa salvação levou S. Leão Magno a escrever: “Hoje nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que nasce a Vida, uma vida que destrói o temor da morte e nos infunde a alegria da eternidade prometida”.
Finalmente João Paulo II revela essa alegria salvífica, na noite do Natal de 1987: “Anuncio-vos uma grande alegria. A voz do mensageiro, no meio da noite, anuncia a alegria. É a alegria da criação. É a alegria do tempo que chega à sua plenitude, segundo os desígnios de Deus. Realmente, o tempo amadureceu. Ao anúncio desta noite abençoada, amadureceu a história do homem, segundo os desígnios de Deus”.
- Conclusões
O Natal engloba um mistério muito mais amplo e abrangente que o simples nascimento de uma criança.
Jesus é a concretização visível do homem que Deus sonhou, ao criar. Somente este Menino, no mistério da Sua encarnação/nascimento, dá pleno cumprimento ao projeto de Deus.
O Natal é a epifania = ou manifestação, em carne humana, do próprio rosto de Deus, que na pessoa de Jesus, se fez homem.
No rosto visível daquela criança, nascida em Bélem, espelha-se todo o amor de Deus pelos homens. O Filho de Deus fez-se homem, e nós podemos vê-Lo. E isso é Natal!
Natal é também a epifania de tudo o que este Menino irá ser.
O menino nascido em Belém, não é apenas a concretização dum projeto passado, mas um projeto de futuro.
No menino se encontra, todo o mistério redentor que culminará na Páscoa. Ele começa, desde menino, a dar a Vida em redenção pela humanidade.
No Calvário, encontraremos o para quê da Sua encarnação. No primeiro dia da semana, Ele ressuscitará. Nesse dia, encontraremos o mesmo Menino, a abrir-nos a porta da Vida eterna e Nova que Ele veio inaugurar. A encarnação é o início, o Natal é a manifestação visível, a Páscoa é a consumação do mesmo e único mistério da salvação realizada em Cristo.
E aquele dia – o dia do fim dos tempos – que Cristo inaugurou ao ressuscitar, já estava contido, em semente, naquele Menino, Verbo encarnado no seio de Maria!
- Módulo II – O TEMPO DO ADVENTO
- História e Significado do Tempo do Advento
Não é uma tarefa fácil precisar a história e o primitivo significado do Advento. É necessário distinguir elementos que dizem respeito as práticas ascéticas, de caráter estritamente litúrgico: um Advento que é preparação para o Natal e um Advento que celebra a vinda gloriosa de Cristo (Advento escatológico).
No Oriente, o Advento permaneceu quase ignorado um período de preparação para o Natal.
Portanto, o Advento é próprio do Ocidente. Já no fim do século IV, na Gália e na Espanha, encontra-se um período preparatório para o Natal com forte caráter ascético (caracterizado pela mortificação da carne e renúncias), chamado ADVENTUS ou Quaresma de São Martinho com duração de seis semanas.
Já no fim do século VII, em Roma, encontra-se um Advento litúrgico de cinco domingos. Este advento não tinha a característica de preparação para o Natal, mas recordar a segunda vinda (parusia) do Senhor.
A origem do Advento, portanto, vai do século IV até a metade do século VI.
Quanto ao significado originário do Advento, alguns optam pela tese do Advento-Natal, outros pela do Advento-Parusia. Por outro lado, os termos adventus, natalis e epifania referem-se fundamentalmente ao mistério da vinda salvífica de Cristo ao mundo.
- A Teologia do Advento
O Tempo do Advento possui um rico e original conteúdo teológico; de fato, considera todo o mistério da vinda do Senhor na história, até a sua conclusão.
- O Advento recorda a dimensão histórica da Salvação. O Deus da Bíblia é o Deus do evento, o Deus da história, o Deus da promessa e da aliança. Deus é aquele que age dentro de preciosos acontecimentos em sentido salvífico; ele se deixa encontrar como salvador da história. Com Jesus, o tempo chega à sua plenitude e o Reino de Deus se torna próximo.
O Advento é o tempo litúrgico no qual é lembrada a grande verdade da história como lugar da atuação do plano salvífico de Deus.
- O Advento, portanto, é também tempo em que se evidencia fortemente a dimensão escatológica do mistério cristão. Com a sua liturgia, o Advento ajuda a passar de uma visão das “últimas coisas” (os novíssimos: morte, juízo, inferno, paraíso) em perspectiva individualista e estática, para uma visão escatológica dinâmica, que vê a história como lugar do agir das promessas de Deus e direcionada para o seu cumprimento no dia do Senhor.
- O Advento traz uma essencial conotação missionária. O tempo da Igreja é um momento da atuação deste único evento e tem como característica o anúncio do Reino e o seu interiorizar-se no coração dos homens até a manifestação gloriosa de Cristo.
O Advento é por sua natureza, o tempo do aprofundamento do significado autêntico da missão. O anseio missionário é componente essencial da vida cristã, enquanto está inserida no mistério do Advento, considerado em toda a sua amplidão e profundidade do seu significado.
Sob esta luz, a figura do Batista, que prepara o caminho do Senhor, e de Maria, que leva Cristo para santificar João em sua visita a Isabel, deixam entrever maneira concretas do empenho missionário.
- A celebração do Advento é uma insubstituível pedagogia para compreender o mistério da salvação, a fim de que Jesus seja o ponto de referência não somente para sentimentos piedosos e religiosos, mas para empenhar toda a existência do anúncio e testemunho do Reino.
- A Espiritualidade do Advento
Toda a liturgia do Advento é apelo para se viver alguns comportamentos essenciais do cristão:
- A expectativa vigilante e alegre caracteriza sempre o cristão e a Igreja, porque o Deus da revelação é o Deus da promessa, que manifestou em Cristo toda a sua fidelidade ao homem. Em toda a liturgia do Advento ressoam as promessas de Deus, principalmente na voz de Isaías, que reaviva a esperança de Israel. A esperança da Igreja é a mesma esperança de Israel, mas já realizada em Cristo. O olhar da comunidade, então, fixa-se com esperança mais segura no cumprimento final a vinda gloriosa do Senhor: “MARANATHA: VEM SENHOR JESUS”. É o grito e o suspiro de toda a Igreja, em seu peregrinar terreno ao encontro definitivo com o seu Senhor.
Esta expectativa vigilante é acompanhada sempre pelo convite à alegria. A Advento é tempo de expectativa alegre porque aquilo que se espera certamente acontecerá. Deus é fiel.
A vinda do Salvador cria um clima de alegria que a liturgia do Advento não só relembra, mas quer que seja vivida. O nascimento de Jesus é uma festa alegre para os anjos e para os homens que ele vem salvar.
- No Advento, toda a Igreja vive a sua grande esperança. O Deus da revelação de Jesus tem um nome: “Deus da esperança”. Não é o único nome do Deus vivo, mas é um nome que o identifica com “Deus para nós e conosco”.
O Advento é o tempo litúrgico da grande educação à esperança: uma esperança forte e paciente; uma esperança que aceita a hora da provação, da perseguição e da lentidão no desenvolvimento do Reino; uma esperança que confia no Senhor e liberta o homem das impaciências.
- Advento, tempo da conversão. Não existe possibilidade de esperança e de alegria sem retornar ao Senhor de todo o coração, na expectativa da sua volta. A vigilância requer luta contra o torpor e a negligência; requer prontidão e, portanto, desapego dos prazeres e dos bens terrenos.
Os comportamentos fundamentais do cristão, exigidos pelo espírito do Advento, estão intimamente unidos entre si, de modo que não é possível viver a expectativa, a esperança e a alegria pela vinda do Senhor, sem uma profunda conversão.
O espírito de conversão, próprio do Advento, possui tonalidade diferentes daquelas relembradas na Quaresma. A substância é essencialmente a mesma, mas, enquanto a Quaresma é marcada pela austeridade da reparação do pecado, o Advento é marcado pela alegria da vinda do Senhor.
Enfim, um comportamento que caracteriza a espiritualidade do Advento é o do pobre. Não tanto o pobre em sentido econômico, mas o pobre entendido em sentido bíblico: aquele que confia em Deus e apóia-se totalmente nele.
- Módulo III – O NATAL
- Origem e História da Festa de Natal
No início, as festas do Natal e da Epifania eram uma celebração com um único e idêntico objeto: A encarnação do Verbo.
No Oriente, o mistério da encarnação era celebrado no dia 06 de janeiro, com nome de Epifania. No Ocidente, isto é, em Roma, o mistério era celebrado no dia 25 de dezembro, com o nome de Natilis Domini. A distinção entre as duas festas, com conteúdo diferente, aconteceu entre o fim do século IV e o início do século V.
A primeira notícia que temos da festa de Natal em Roma, está no documento chamado “Cronógrafo” do ano 336. Aí é fixada a festa do Nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro.
Por meio de Santo Agostinho, sabemos que na metade do século IV o Natal era celebrado como em Roma, na África e na mesma data.
São Gregrório de Nazianzeno, em 380, introduz o Natal em Constantinopla.
Várias causas contribuíram para o surgimento da celebração do Natal.
- Primeiro precisamos ter claro que 25 de dezembro não é historicamente o dia do nascimento de Jesus, apesar da afirmação contrária de alguns autores antigos. Esta data é indicada por antiga tradição, segundo a qual Jesus teria sido concebido no mesmo dia e mês em que depois seria morto, isto é, no dia 25 de março; consequentemente, o seu nascimento teria acontecido em 25 de dezembro. Esta tradição não determinou a origem da festa, mas foi apenas uma tentativa de explicação.
- A explicação mais provável deve ser procurada na tentativa de a Igreja de Roma suplantar a festa pagã do “Natalis (solis) invicti”.
No século III difundiu-se no mundo greco-romano o culto ao sol. O Imperador Aureliano (+ 275) deu-lhe importância oficial, com a construção de um templo em Roma.
Com Juliano Apóstata (335), o culto ao sol tornou-se símbolo da luta pagã contra o cristianismo. A principal festa desse culto era celebrada no solstício de inverno, no dia 25 de dezembro, porque representava a vitória anual do sol sobre as trevas.
Para afastar os fiéis dessas celebrações idolátricas, com base numa rica temática bíblica, a Igreja de Roma deu a tais festas pagãs um significado diferente. No momento em que se celebrava o nascimento astronômico do sol, foi apresentado aos cristãos o nascimento do verdadeiro sol, Cristo, que apareceu no mundo depois da longa noite do pecado.
- Outro fator que contribuiu para que as festas natalinas se afirmassem foram as grandes heresias cristológicas dos séculos IV e V.
A instituição e a rápida e universal difusão do Natal no Ocidente e da Epifania no Oriente foram meio e ocasião para a afirmar a ortodoxia da fé em pontos fundamentais do cristianismo.
- A Teologia da Celebração do Natal
Estamos diante da celebração comemorativa do nascimento do Senhor, da memória do acontecimento histórico, que se deu no tempo de Cézar Augusto, o qual ordenou que, sob Quirino, se fizesse um recenseamento na Síria. A celebração, porém, não para no fato histórico, mas dele vai ao seu verdadeiro fundamento, o mistério da encarnação.
Para o Papa Leão Magno, o mistério da natividade de Cristo é uma rica e profunda expressão, através da qual apresenta o valor salvífico do evento. A essência do mistério encontra-se na união da humanidade com a divindade na única pessoa divina do Verbo, cuja finalidade, é salvar a humanidade; é, portanto, essencialmente um “mistério da salvação”, mediante o qual é dada ao homem a graça da reconciliação. A celebração do Natal renova para nós o sagrado Natal de Jesus.
Com as celebrações epifânicas, temos na fé, a certeza de que a salvação acontecida no evento, é comunicada também hoje para nós. No Natal, a Igreja celebra a revelação de Deus na encarnação como evento salvífico, ou seja, ela é no sentido mais pleno, ato sagrado, no qual é celebrado e participado o ato primordial da nossa salvação. Ato sagrado no qual e pelo qual é “atualizada” a obra salvífica de Deus.
O Natal torna presente o ponto de partida de tudo o que se realizou, para a nossa salvação, na carne de Cristo.
A liturgia do Natal recorda todo o realismo da encarnação terrestre do Verbo. O Filho de Deus não se disfarça em homem, mas permanecendo Deus, é também real e concretamente homem; ele se manifesta na realidade total do homem.
Santo Agostinho afirma: “Deus se fez homem a fim de que o homem se tornasse Deus”, esta troca entre a divindade e a humanidade está no centro de toda a rica liturgia do Natal, ou seja o Verbo assumiu aquilo que era nosso e, em troca, a natureza humana foi elevada à dignidade divina. Portanto, o Natal é a festa do homem feito filho de Deus.
A Espiritualidade do Natal
O mistério do Natal não nos oferece somente um modelo para imitar a humildade e pobreza do Senhor que está deitado na manjedoura, mas nos dá a graça de sermos semelhantes a ele. A manifestação do Senhor conduz o homem à participação da vida divina. Assim, a verdadeira espiritualidade do Natal não consiste na imitação do Cristo “do lado de fora”, mas “viver Cristo que está em nós” e manifestá-lo com a vida no seu mistério de virgindade, obediência, pobreza e humildade.
São Leão Magno convida-nos a tomarmos consciência de tanta dignidade: “Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade, e já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Recorda-te de que foste arrancado do poder das trevas e levado para a luz e o reino de Deus”. Portanto, o fruto espiritual do Natal consiste no empenho moral de viver a graça da redenção e da regeneração, de conservar interiormente o Espírito Santo que nos faz filhos de Deus.
Enfim, porque Deus nos faz filhos seus em Cristo, inserindo-nos como membros da Igreja, a graça do Natal exige também uma vida de comunhão fraterna.
- A Oitava do Natal e as festas que a caracterizam
O Natal conserva a sua oitava, que se conclui com a solenidade de Maria Santíssima, Mãe de Deus. A oitava apresenta festas muito significativas: Santo Estevão, primeiro mártir; São João Evangelista, o discípulo que Jesus amava; os Santos Inocentes, mortos por Herodes; a Sagrada Família de Jesus, Maria e José.
Cada uma dessas celebrações exprime um aspecto do testemunho do mistério da encarnação.
- Santo Estevão, primeiro mártir (26 de dezembro) – a liturgia recorda especialmente o testemunho do amor que perdoa, dado por Santo Estevão em seu martírio.
- São João apóstolo e evangelista (27 de dezembro) – a liturgia sublinha a revelação da misteriosa profundidade do Verbo e a inteligência penetrante da Palavra que caracterizam os textos inspirados do apóstolo.
- Santos Inocentes mártires (28 de dezembro) – os inocentes que deram testemunho de Jesus com o seu sangue, lembram-nos que o martírio é dom gratuito do Senhor. Aqui a liturgia recorda o valor do testemunho de vida, que não pode estar separado da palavra por parte dos adultos.
- Domingo durante a oitava de Natal, Sagrada Família de Jesus, Maria e José – recorda que o mistério da encarnação é um mistério de partilha. O Filho de Deus veio partilhar em tudo, exceto no pecado, da nossa condição humana; veio para fazer parte da família humana, vivendo na obediência e no trabalho de uma família concreta. Emergem, porém, nessa família os valores e as virtudes que devem caracterizar qualquer família cristã.
- Maria Santíssima, Mãe de Deus – Celebra a Maternidade divina de Maria. Na virgindade de Maria se vê o sinal da divindade de Cristo e o tipo de novo nascimento que ele veio trazer para todos os que nele crerem.
- Módulo IV – A Epifania
- Origem da Festa da Epifania
Esta celebração nasceu no Oriente e é anterior à solenidade do Natal, surgida no Ocidente.
O ermo grego epifania ou teofania significa autonotificação, entrada poderosa na notoriedade e referia-se à chegada de um rei ou de um imperador. O mesmo termo também servia para indicar a aparição de uma divindade ou sua intervenção prodigiosa.
No Oriente, o nome epifania indicava a festa do Natal do Senhor, a sua aparição na carne.
Já no século II tem-se notícia de uma festa cristã, celebrada no dia 06 de janeiro, com a qual se comemorava o Batismo de Jesus. Na metade do século IV, temos a primeira notícia da festa ortodoxa da Epifania, a qual, celebrava “a vinda do Senhor, ou seja, o seu nascimento humano e a sua perfeita encarnação”.
No tempo de São João Crisóstomo, antes de 386, a festa era celebrada em Antioquia e no Egito, fazendo memória do batismo de Cristo e o seu nascimento.
Quando o Natal entrou no Oriente, acabou de romper o significado primitivo da Epifania, que se tornou provavelmente a festa do batismo de Jesus. Daí provém o uso de batizar nessa ocasião.
O surgimento da festa da Epifania no Oriente não se deu num momento muito diferente daquele no qual surgiu o Natal no Ocidente.
Teologia e Espiritualidade da Epifania
- A manifestação de Deus em Cristo é para todos os povos
A celebração da Epifania preludia o mistério de Pentecostes, quando a efusão do Espírito realizará em Jerusalém a unidade dos Judeus e dos prosélitos de todas as nações, as quais, dóceis ao ensinamento dos apóstolos, participam da mesa eucarística no amor fraterno. Jesus inaugura o reino com uma perspectiva universal, um reino aberto a todos.
- Epifania, mistério dos esponsais de Cristo com a sua Igreja
O rico conteúdo da celebração da Epifania, colocando em relevo o episódio dos Magos, mas não se limitando a ele, coloca o mistério da manifestação do Senhor através dos sinais em íntima conexão com o mistério da Igreja, formada pela parte da humanidade que responde com a fé aos “sinais” da presença do Verbo encarnado no mundo. O senhor se manifesta para conduzir às núpcias os homens que quer salvar. Todo o mistério da revelação é um mistério de amor nupcial.
- Epifania, mistério da Igreja missionária
A Epifania inclui também o seguinte tema fundamental: todo cristão, como os Magos, deve deixar-se guiar pela fé e, por sua vez, deve ser um portador de fé, indicando aos irmãos o “sinal do grande Rei”.
Cristo manifestou-se; a Igreja, seu sacramento, manifesta-se. Ela deve ser o sinal de Deus que se fez carne, deve ser o reflexo da luz de Deus que ilumina com a presença do seu Verbo.
O mistério da epifania da Igreja inicia-se no banquete nupcial da eucaristia. Aqui Cristo une a si, de modo inefável, a sua Igreja, e a constrói em “seu ser” mais autêntico, para que seja instrumento de salvação no mundo e para o mundo.
A celebração da Epifania deve ser, portanto, um abrir-se mais generoso à dimensão missionária da Igreja.